Apesar dos pesares, o fez.

Manhã de um sábado, acordava de um sonho profundo. Poeira aos olhos incentivavam-no a ficar mais tempo na cama que lhe parecia muito confortável, mas havia um sentimento forte que não o deixava mais descansar. Tirou lençol da cara, as luzes que entrecruzavam as persianas da janela, percorria de maneira veloz aos seus olhos. Doía. Rapidamente se levantou para ajeitar aquela situação, e o escuro invadiu-o novamente.
- Eu não queria que doesse tanto assim - pensava ao segurar uma foto de família que tinha em sua cômoda, nela havia uma família feliz comemorando um aniversário. Provavelmente era a sua e em seu aniversário quando criança.
Engoliu alguma coisa seca, que parecia doer. Deixou novamente o retrato na cômoda e acendeu o abajur que ficava na mesma, iluminando timidamente o quarto, como gostava.
Seu apartamento era pequeno, tinha poucos cômodos. Em um ficava sua cama com uma cômodas em cada lado, janelas grandes com cortinas floridas e tingidas de cores mortas, ao lado tinha um pequeno banheiro com utensílios necessários para existência do mesmo. Sua vida era bem humilde. Havia também uma cozinha pequena, com um fogão de 4 bocas, onde nenhum deles a chama conseguira acender e também havia uma pequena pia, ao lado da geladeira que mal abrigava coisas.
Ele se encaminhou para banheiro em passos lentos, acendeu a luz da mesma e olhou no espelho se perguntando:
- Olhos caídos. Olheiras, cara abatida. Aonde ela vê tanta beleza e otimismo ? Super bem sucedida em tudo que faz, sendo que eu somente arranjo bicos por ali, por aqui. Não tenho família, poucos amigos e a coisa mais importante na minha vida é ela. Apesar de tudo que me ocorre, ela sempre esteve por perto para ser meu porto seguro diante toda a tormenta que começa devastar minha vida, minha existência. Mas tem dias... - Jogou a água no rosto, para finalmente conseguir pensar com lucidez sobre o dia de hoje. Iria encontrar ela, sua pequena.
Se encaminhou para o banho gelado, que exauria de sua alma qualquer sono. Melhor que café ou energético, estava mais acordado do que nunca. Ao começar trajar suas roupas, continuava os pensamentos que o perturbava esporadicamente:
- E o que faço ? - pensava consigo mesmo - Tudo havia se passado tão rápido: minha infância, adolescência e agora já estou com 26 anos. Sem emprego fixo, com escolaridade básica e muito medo do que o mundo é capaz de fazer.
Nada se fazia flores, percebia. Acendeu seu primeiro cigarro do dia, seu vício que lhe servia com fuga de tanta angústia que guardava para si. Angústia que ele não compartilhava nem com sua pequena. Tragou algumas vezes, aliviando aquele peso sobre os ombros e então batera na ponta do cigarro para depositar as cinzas ali, em um cinzeiro metálico que ganhara de seu melhor amigo Alex. Percebia-se que a dor chamada saudade o invadia ali, ao olhar fixadamente o objeto metálico. Se espertou.
Notou que estava atrasado ao olhar no seu relógio, os ponteiros se encontravam e sua menina estava esperando ali perto de sua casa, então apagou cigarro e tratou de apressar os passos.
Descia as escadas e um pensamento súbito o invadiu, como uma chama que se alastra sobre a floresta, rapidamente a angústia o tomou conta. Apressara os passos e pensava:
- Porra! Nada nessa vida parece me fazer ter motivos para prosseguir respirando, andando, chorando... Vivendo. Estarei criando uma família que não posso sustentar ? Criar um filho em um mundo que a vida vale menos que o dinheiro ? - chegando até a soluçar.
Então via sua menina do outro lado da rua, abrindo o sorriso que o fez ser conquistado desde a primeira vez que os viram. Um sorriso que torna o mundo um lugar melhor pra viver, sem porque e nem pra que. Apenas o faz.
Mesmo assim angústia ainda lhe apertava e continuava pensando:
- E se por um momento, só um momento, eu tivesse uma paz - pensava nisso, ele atravessava a rua para encontrá-la -  que seria capaz de aliviar esta dor que eu sinto ? Talvez eu devesse... -  então ele olhou vagamente para onde vinha o som de um dos lados da pista.
Só se podia escutar barulho de freada de carro, sirene de ambulância e uma garota com uma dor imensurável. Havia somente dor derramada em forma de sangue, que tingia aquela bela tarde ensolarada de sábado.

Silêncio.

Então ele acordara suado. Era manhã de um sábado, das persianas da sua janela vinha uma luz que o atormentava esporadicamente nas manhãs. Tratou de acordar rapidamente. Apesar de seus olhos empoeirados, conseguiu ajeitar a cortina para não o perturbar com luz nesse momento do dia. Hoje iria ver o amor de sua vida e, apesar de tudo que ocorreu na sua vida, via naqueles olhos grandes de sua menina um belo motivo para ainda viver.
Vestiu-se, acendeu seu cigarro habitual, e avistava sua pequena com um sorriso magnífico no outro lado da rua. Olhou para os dois lados da pista, deixando o carro passar, e, então, se fez uma bela tarde naquele sábado.
Apesar dos pesares, o fez.

Escrito por @poserdadepre

4 comentários:

Anônimo disse...

eae, qual opinião de vocês ? (:
ass: @poserdadepre

CristaoDepre disse...

MUITO BOM!!!!111ONZE11

nemlíbeijos.

Anônimo disse...

é cara texto muito bom, interessante, com uma mensagem valorosa. Receio que nem todos vão entender, parabéns. por: @joaopalves

@luuvellasco disse...

Qiso ein poserdadepre. qqq
Gostei muito do texto.. em algumas partes até me identifiquei. rs
Passarei sempre aqui ;)

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