A inação do viver

Corria rápido, com as mãos certificando que não cairia, ao segurar no corrimão da escada. Luiz Eduardo estava atrasado para o seu trabalho e correra rapidamente para o metrô. Apesar de sua preocupação, tudo pareceu mais sereno e leve, depois de adentrar no vagão (que o mesmo estava já quase partindo) e poder sentar no banco de cor marrom-morto que ali lhe parecia aguardar.
Mariana iria visitar sua avó, sempre muito cautelosa, carregava sempre seu guarda-chuva azul com estampas de flores. Presente que fora dado pelo seu antigo namorado, que, estranhamente, ela ainda o guarda. Entrou no metrô em sua serena calmaria, comprou seu respectivo ticket e sentou em um dos bancos marrom-mortos que ali haviam. Ela sempre pensara que estes bancos deveriam transmitir alegria, que fosse da cor amarela-sol. Nunca viu este sonho se realizar. E, então, ela percebera que um jovem moço, afobado e com suor nas maçãs do rosto, tinha sentado ao seu lado. Era o Luiz Eduardo.
Coitado deste rapaz, este mundo é um caos mesmo - ela pensava. Fitava o moço de relance pelos cantos dos olhos e percebera que ele tinha uma beleza bem peculiar: olheiras nos olhos, barba por fazer e um semblante serelepe, que o fazia parecer ter uma ânsia de viver.
Luiz Eduardo estava agitado, pensando em qual a desculpa que daria para o Manoel Mota - seu chefe - sobre o seu novo atraso. Estava com medo de perder o emprego. E foi nesta entressafra de pensamentos que ele se deu conta da moça bem peculiar que sentava ao seu lado: Lindos olhos verdes, da cor de uma selva densa, cheia de vida. Tudo isto em contraste com seu semblante tristonho, que demonstrava seu provável descrédito pelo o mundo que a cercou até então - pensava Luiz Eduardo. E nessa maré contínua de pensamentos, imaginou que a faria feliz e, neste momento, foi quando ela correspondeu o sorriso que ele deixou escapar ao olhá-la. Seu coração acelerou e suas mãos tremiam. Ela tinha um sorriso lindo.
Mariana ficou constrangida com toda essa situação. Pensando no que esse rapaz tão charmoso parecia querer de uma moça tão simples e nada extravagante. Mas tinha algo que a cativava neste rapaz. Talvez seu trajar menos usual, ou essa incrível disposição que saltava de sua áurea, ela não sabia dizer. Depois de já ter desviado o olhar e o sorriso, como uma ação natural, começava exercitar sua arte de imaginar e criar, em sua cabeça, um cenário onde ele a perguntaria seu nome e, depois de um papo breve, diria que queria o número dela para ligar posteriormente. Foi então que brotou um sorriso no canto do rosto de Mariana.
O metrô sacolejava. Pessoas e mais pessoas entravam e saiam do vagão. Luiz Eduardo ja criara uma simpatia por sua anônima colega de viagem, sem mesmo ter sequer trocado qualquer palavra com a mesma. Se questionava de que modo deveria abordá-la, sem parecer promíscuo ou estranho. Nada vinha em sua cabeça, culpava as regras de conduta social a sua inação. Como eu poderei viver sem saber se ela será mesmo a mãe dos meus filhos ? - pensava Luiz.
Dramatizou um pouco o seus sentimentos, mas sempre foi isso que passou em sua mente quando se encontrava em situações análogas. Foi quando Mariana se deu conta que sua estação já havia chegado. Seu coração apertou de uma forma tão intensa, que tudo que pôde fazer foi dar um olhar de adeus para o jovem afobado que havia lhe feito uma ótima companhia durante a viagem... A porta do vagão fechou.
Choveu aquele dia. Luiz Henrique não foi despedido do trabalho. E eles nunca mais se encontraram novamente.

Texto de @poserdadepre

1 comentários:

Anônimo disse...

Hm, enquanto lia pensava ter muito o que dizer e agora, começo a comentar um monte de inutilidades. A verdade é que gostei da situação, tão rotineira, tão comum, me conforta, sei como é essa sensação, vivenciei essa situação, ou se não, as chances de vivenciá-la amanhã são enormes.
Também gostei do clímax, na forma de expectativa só para com ela acabar logo em seguida. Basicamente é um anti-clímax, não? Bem são 2h26 gostaria de escrever mais coisas, dar minha opnião em mais contos com palavras mais específicas, mas o cansaço me impede. Também escrevo e sei a importância de uma crítica, mas volto ao blog outro dia. Outra hora, mais oportuna. Até.

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